sexta-feira, 12 de junho de 2020

Um atípico 12 de junho


por: Rodolfo Silva

O ano é 2016, Chiquito acordou, pegou seu celular e mandou mensagem para Livinha “Bom dia, muié. Feliz dia dos namorados”. Horas depois Livinha acordava e respondia a mensagem. Os namorados combinam de almoçar junto na casa de Chiquito, afinal era domingo e dia dos namorados. Para ambos era um dia muito especial, afinal estavam ainda no primeiro ano de namoro.

Chiquito, cruzeirense fanático, estava ansioso para o relógio bater 16h, afinal era dia de clássico e não conseguia parar de pensar nisso. Enquanto Livinha, toda meiga, preparava um almoço caprichado, Chiquito ouvia a Rádio Itatiaia pelo celular para entrar no clima do jogo e bebia seu latão de Brahma que estava ‘trincando’ após ficar mais de uma hora no congelador. Livinha ficou tão entediada com os comentários esportivos, que pegou o fone de ouvido e foi ouvir suas músicas.

Aquele domingo já era especial pela data comemorativa, e por ter clássico mas tinha outro ingrediente especial: o atacante Fred. O artilheiro teve passagem marcante no início da década pelo clube celeste (marcando mais de 50 gols) e era muito querido pela torcida azul, Chiquito sempre que via o atacante fazer grandes jogos gritava “Fred guerreiro volta para o Cruzeiro”.

Quis o destino que Frederico retornasse a terra do pão de queijo naquela semana, mas não para o clube celeste: Fred fechou contrato com o clube que vive ‘do outro lado da lagoa’ e a partir daquele dia vestiria o manto alvinegro do Atlético, o maior rival do clube celeste e estrearia naquele domingo, justamente contra o Cruzeiro.

Frederico Chaves Guedes, o Fred. O Homem responsável pela discórdia no 12 de junho. 
(Foto/ Maurício Paulucci)

Livinha queria sair para aproveitar o dia dos namorados, mas Chiquito se recusava a sair, pois queria ver o jogo. O Cruzeiro estava mal aquele ano, o time era treinado pelo português Paulo Bento e estava na zona de rebaixamento e dois pontos atrás do rival. Livinha não dava a mínima para isso, e, aquele dia, tão esperado pela namorada, estava se tornando um tédio para ela: as duas horas entre o almoço e o início da partida pareceram 20 horas.

Quando a partida começou, Livinha respirava aliviada, sua respiração parecia comemorar que o clássico enfim começava (Chiquito só se lembrou disso no outro dia, pois naquele dia a mente estava em outro lugar).

O primeiro gol saiu e foi do Atlético, a garota ria enquanto Chiquito esbravejava contra a defesa “inaceitável esse gol de falta do Rafael Carioca” e dizia outras palavras não muito agradáveis contra a barreira do Cruzeiro, que se abriu no momento do gol. Mas cinco minutos depois Chiquito comemorava a jogada de Arrascaeta na linha de fundo que resultou em gol de Alisson. A namorada antes entediada, apenas observava a reação de seu companheiro durante o jogo, sem entender muito, mas considerando absurdo o futebol envolver tantas emoções.

Aquele domingo se tornava cada vez mais incomum quando Riascos fez gol. Aquele mesmo atacante que havia perdido um pênalti no último minuto em 2013 contra o mesmo Atlético na libertadores, quando vestia a camisa do Tijuana, marcava o segundo gol celeste. Naquele momento Chiquito ficou incrédulo e soltou baixinho duas palavras “Nunca Critiquei”. Livinha ficou sem entender, mas começava a rir da situação.    

Que dia louco! Até o Riascos marcou gol.. (Foto/ Light Press)

Quis o destino que esse jogo fosse de muitos gols e expulsões, fazendo com que uma explosão de sentimentos como alegria e raiva tomassem conta de Chiquito durante a partida. Enquanto isso, Livinha contava os minutos para acabar o jogo (queria logo sair para aproveitar o dia dos namorados). Mas o momento mais tenso do dia foi quando Frederico marcou o gol de empate do Atlético no inicio do segundo tempo: Chiquito soltou palavrões e deu um soco na cama onde estava sentado. Livinha nesse momento se zangou e começou a reclamar com o namorado: “isso não é coisa que se faz, cê tá doido?” esbravejava.           

Depois de muitos momentos tensos e reclamações, Chiquito pôde comemorar novamente quando Bruno Rodrigo, de peixinho, pôs o clube celeste à frente do placar novamente. Livinha não comemorou esse gol com o namorado, ainda estava brava pela reação do namorado no momento do gol de Frederico.      

Aos 48 do segundo tempo o árbitro apitava o fim da partida: o Cruzeiro vencia o Atlético por 3 a 2, saía da zona de rebaixamento, ultrapassava o rival e o mandava para o Z-4.

Livinha comemorou o fim da partida como se fosse cruzeirense, mas a gente sabe que foi porque enfim ela poderia ter seu dia dos namorados como merecia.


← Postagem mais recente Postagem mais antiga → Página inicial

1 comentários: