Quadro de entrevistas do Alterna Fut está de volta em 2020! O primeiro entrevistado é o gaúcho Eduardo Luersen, que atualmente comanda o sub-20 da Desportiva Ferroviária (ES) e é preparador físico do profissional da equipe.
Por: AlternaFut
Natural de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, Eduardo Luersen começou sua carreira como preparador físico do sub-20 no Grêmio Esportivo Sapucaiense no ano 2000. Passando posteriormente por clubes do estado de SP e RS, se destacou em Minas Gerais, mais precisamente como auxiliar técnico no Figueirense Esporte Clube de São João del-Rei em 2015, época em que o clube fez uma excelente campanha na Segunda Divisão do Mineiro quando chegou no hexagonal final.
No ano seguinte assumiu a missão de ser auxiliar no Valério Clube, de Itabira, onde o clube também se classificou para a fase final do estadual.
Seu trabalho e visão de jogo chamou a atenção do Aymorés, de Ubá, que em 2017 o contratou para comandar a equipe sub-20. Tiro certeiro: o time da zona da mata mineira venceu a Copa Alterosa sub-20 e Eduardo Luersen foi o melhor treinador da competição.
Em 2018, o gaúcho permaneceu no comando da equipe que fez parceria com o Ponte Nova F.C para a disputa do Campeonato Mineiro Sub-20. A campanha na competição foi tímida: uma vitória e três empates. Porém, o treinador conseguiu a atenção após segurar a forte equipe do Atlético Mineiro em Ubá, por 0 x 0 e arrancou elogios do auxiliar técnico do galo mineiro.
No último ano, Luersen se aventurou em uma volta a São João del-Rei, novamente como auxiliar técnico do Figueirense, mas o time não obteve o mesmo sucesso de 2015 e caiu logo na primeira fase da competição.
Em 2020, Eduardo Luersen foi convidado para assumir o cargo de treinador sub-20 da Desportiva Ferroviária, mas a competição ainda não iniciou e não há previsão para os jogos começarem, devido a pandemia do Covid-19.
Confira a entrevista de Eduardo Luersen, para o Alterna Fut!
Prof Eduardo Luersen - Treinador sub-20 Desportiva Ferroviária
(Imagem/Reprodução TX Ag. Esportiva)
ALTERNA: Quando foi
que você decidiu que gostaria de trabalhar com futebol?
Eduardo Luersen: Sempre
gostei de esportes e fui incentivado por ótimos professores de educação física
na escola; no Ensino Médio decidi que seguiria essa carreira na universidade.
Nos anos 2000, com 23 anos de idade, assumi a preparação
física de uma equipe sub21 e vencemos a Copa Sul Sub 21, subindo para a
primeira divisão do Campeonato Gaúcho. Foi uma ótima experiência.
Desde então, vislumbrei, no futebol, minha carreira profissional.
AF: Em qual função se
sente mais confortável, preparador físico ou treinador?
Luersen: Hoje
prefiro atuar como treinador, mas a experiência que a preparação física me deu
está sendo muito importante para a gestão de grupo, pro entendimento das
necessidades dos atletas dentro do campo e pra montagem de Comissão Técnica
qualificada, digo, ter conhecimento das inúmeras nuances do futebol ajuda muito
nos debates e montagem dos trabalhos de preparação de equipe.
AF: Considera muito
complicado exercer duas funções ao mesmo tempo e em elencos diferentes?
Luersen: Cheguei à Desportiva Ferroviária em janeiro
para atuar no Sub20, e logo me pediram para assumir a preparação física da
equipe profissional faltando uma semana para a estreia no Estadual 2020. Como
havia tempo suficiente para organizar com calma as questões extra campo do
Sub20 e não sou de negar trabalho, acabei assumindo. Iniciamos o trabalho conjunto na semana que explodiu a crise do Covid-19, então foram apenas 3 dias
de trabalho nas duas categorias, mas até então estava tranquilo, pois houve
planejamento e conciliação de horários para atuar nas duas frentes.
AF: Tendo uma vasta
experiência e rodado por estados diferentes, qual o mais difícil de “fazer
futebol” e quais os motivos?
Luersen: Cada estado tem sua particularidade, mas o
futebol é global. Em São Paulo, por exemplo, a maioria dos times tem poder de
investimento e levam as equipes a um nível alto de competição; Minas Gerais,
com sua grande dimensao territorial, torna o trabalho desgastante, pois se
viaja muito; o Rio Grande do Sul tem um futebol de muita força física, o que
interfere na montagem do elenco e pode fazer
muita diferença se fugir do padrão de atletas com essa característica. O
futebol é difícil em todos os lugares e cabe a nós, profissionais, estarmos
sempre atualizados e prontos para qualquer situação.
AF: Para um gaúcho, é
difícil ter que lidar com culturas tão diferentes da sua original, como a de
Minas, São Paulo e Espirito Santo?
Luersen: Essa é a melhor parte de trabalhar com o
futebol - poder conhecer, experimentar e vivenciar outras culturas. Isso me
enriquece demais e desfaz ou reafirma mitos e falácias populares.
Cada particularidade que descubro sobre o lugar onde estou
me ajuda a entender também o pensamento e a forma de fazer futebol. Então,
estar inserido na cultura local ajuda meu trabalho.
AF: Com experiências
em equipes de menor expressão nacional e com baixo investimento, em sua visão,
é possível que apenas com trabalho tático, técnico e físico vejamos equipes
“pequenas” surpreendendo grandes novamente, visto que cada dia mais o futebol
se pauta no dinheiro?
Luersen: Acredito
no trabalho, independentemente do valor que um clube tem pra investir. Os
requisitos básicos têm que ser oferecidos, como salário em dia, boas condições
de moradia e alimentação para os atletas e equipe técnica capacitada.
É claro que ter dinheiro faz muita diferença, mas se não
houver pessoas sérias, comprometidas e conhecedoras do futebol, o dinheiro
acaba e os resultados não chegam.
AF: Você, como
preparador físico, enxerga muita distância da capacidade física dos atletas de
clubes tradicionais de primeira divisão para os do interior?
Luersen: Acho que a grande diferença está no controle
das cargas de treino e recuperação. Grandes clubes utilizam aparatos
tecnológicos de ponta para monitorar seus atletas - GPS, mapa de calor, drone,
lactímetro, marcadores tumorais, suplementação e alimentação adequada. Dessa
forma é mais fácil saber o real condicionamento, nível de cansaço e recuperação
dos atletas. Além disso, há equipes multidisciplinares, formadas por
fisiologistas, preparadores físicos, fisioterapeutas, nutricionistas, médicos e
afins à disposição, quase sempre em tempo integral, do clube.
Por outro lado, os preparadores físicos de equipes menores
fazem mágica, pois trabalham com escassos recursos, quase sempre
sozinhos-quando muito, com um estagiário, muitas das vezes o feedback é dado
pelo próprio atleta através de escalas de nível de cansaço e recuperação, e
mesmo assim esses profissionais minimizam lesões e fazem com que seu time tenha
bom desempenho físico no decorrer dos campeonatos.
AF: Qual é a maior
diferença no trabalho feito com jovens e profissionais?
Luersen: Hoje em dia existe pouca diferença, visto que
a maturação dos atletas jovens ocorre bem cedo. O que ainda percebo,
especialmente no futebol do interior e sem grandes cifras, é que o atleta que
chega ao nivel profissional carrega falhas técnicas e tem dificuldade na
adaptação tática.
Grande parte dos clubes trabalha as categorias de base apenas com o calendário das competições
oficiais, o que gera um dilema, pois se a competição for muito curta, não dá tempo para desenvolver efetivo trabalho de formação, e, se for muito longa não há dinheiro suficiente para a manutenção da base.
AF: Em 2017,
comandando o Aymorés de Ubá, você foi campeão da Copa Alterosa Sub-20 em cima
do Núcleo Esportivo de São João Nepomuceno, com direito a goleada de 4 x 1.
Poucos meses antes, quando comandava o Social de São João del-Rei, havia sido
eliminado pelo mesmo Núcleo, também treinado pelo ex-atleta Marco Aurélio
Ayupe, na Copa Alterosa Amador. Foi um alívio ter ganhado aquele jogo depois de
perder por 1 x 0 a primeira partida da final?
Luersen: São as
coincidências do futebol. Com o Social, perdemos a semi-final em São João
Nepomuceno e isso me motivou a estudar mais o trabalho do Ayupe e a maneira que
ele atuava dentro de seus domínios.
Com o Aymorés, chegamos à final do Sub20 já sabendo da
dificuldade de jogar no campo deles. Sofremos uma derrota por 1 x 0, e notei
que o desempenho do meu time tinha sido menor do que poderia e que já havia
rendido durante a competição. Falei pro grupo de atletas que precisaríamos
trabalhar muito durante a semana para reverter o resultado, e eles compraram a
idéia e se dedicaram como poucas vezes vi “meninos” fazerem. O resultado foi o título e a linda lembrança de
superação e vontade que está guardada no meu coração. Foi um jogo emblemático,
pois o que trabalhamos de neutralização dos pontos fortes da equipe deles e de
entendimento de onde poderíamos atacar e ganhar o jogo deu resultado, e, mais
que o placar dilatado, esse espírito de superação e união me deixaram feliz e
orgulhoso de todos que participaram daquela campanha.
AF: Em 2018 após
segurar o empate em 0 x 0 contra o Atlético-MG no Mineiro Sub-20, em Ubá, o
auxiliar técnico do Galo, Eugênio Salomão rasgou elogios ao seu trabalho e
postura de jogo de seu time. Como foi aquele jogo? Desde a preparação até o fim
da partida.
Luersen: Buscamos
informações sobre a maneira do Atlético jogar e conseguimos alguns vídeos de
jogos deles. Trabalhamos a parte defensiva para bloquear as principais jogadas
de criação deles e isso os deixou bastante irritados e impacientes. Esse
desequilíbrio emocional deles foi muito vantajoso pro meu grupo, porque eles
não conseguiam avançar para o nosso campo. Nossa aplicação tática foi fator imprescindível
pro ótimo desempenho e decisivo pro resultado do nosso time. Até tivemos
oportunidades de ganhar o jogo no segundo tempo, mas o empate foi saudado.
AF: No último ano,
você se aventurou em uma volta à São João del-Rei para ser auxiliar técnico no
Figueirense. Mas aquilo foi um pesadelo e o time caiu na lanterna da fase de
grupos, com apenas uma vitória na competição. O que deu errado?
Luersen: Houve
boa vontade e grande expectativa para disputar mais uma vez o Campeonato
Mineiro, entretanto, acho que a grande diferença de 2015 para 2019 foi o
planejamento e a organização.
Os trabalhos em 2015 iniciaram-se com bastante antecedência.
Houve mais tempo para captação de recursos, montagem do elenco e preparação
dentro do campo, o que permitiu um bom resultado da equipe. Não contamos com
essa preparação antecipada em 2019. Ainda assim aprendi muito nessa segunda
passagem pelo Figueirense e desejo que quando voltarem ao cenário profissional,
essa experiência sirva de aprendizado, crescimento e aperfeiçoamento.
AF: Conte um pouco
sobre o trabalho desenvolvido na Desportiva Ferroviária: após a peneira do
sub-20, uma pausa forçada devido ao Covid-19.
O quanto essa indefinição atrapalha os planos e o projeto do clube?
Luersen: A
Desportiva está iniciando um processo de renovação das categorias de base. Uma
cartilha de valores e de modelo de jogo está sendo formulada para,
gradualmente, ser implementada dede a Escolinha até o Sub20.
Em curto prazo isso será visto no modelo de gestão e maneira
de atuar do Sub20, e, aos poucos, chegará também às outras categorias.
Intentamos formar um DNA do clube, que seja indicativo de
qualidade e excelência na formação de atletas para abastecer a equipe
profissional da Tiva ou mesmo para serem negociados com outros clubes, com alto valor de mercado, haja vista a
grande qualidade do atleta.
AF: Qual foi o jogo
mais difícil que você já teve até hoje?
Luersen: Considero
que foi o jogo da Segunda Divisão do Mineiro de 2016, entre Valeriodoce de
Itabira e Clube Atlético Patrocinense, de Patrocínio. Eu era auxiliar técnico
no Valério e já haviam passado 38 minutos do segundo tempo e nos perdíamos por
2x0. Nosso goleiro já havia defendido um pênalti e o jogo estava totalmente
desfavorável pra nós: calor intenso,
gramado alto, longa distância percorrida, jogo fora de casa.
Entretanto, numa reviravolta impressionante, aos 39, 41 e 44
minutos do segundo tempo viramos o jogo que ainda teve 7 minutos de acréscimo.
Carga emocional altíssima, virada em poucos minutos, ganhou ares e tom de jogo épico.
AF: Qual seu maior
sonho como treinador?
Luersen: Ainda
tenho o desejo de trabalhar em um clube de grande expressão. Me considero novo e
tenho força e determinação para trabalhar arduamente até alcançar essa posição.
Também criei uma rede de relacionamentos maravilhosa. Alguns
desse contatos, que inclusive já trabalharam em outras equipes comigo, estão
mais uma vez formando uma parceria, agora na Desportiva, pra levarmos futebol
de alto nível, com profissionais altamente capacitados e comprometidos, com
muita responsabilidade e, principalmente, com muita vontade pra galgarmos
patamares elevados nesse apaixonante mundo da bola.
Entrevista publicada em 23/03/2020
Eduardo além de grande profissional é um grande homem, pessoa de caráter que busca seus objetivos com garra, se Deus quiser o verei em uma grande equipe do futebol brasileiro. Mas queria vê-lo de volta al SC Aymorés.
ResponderExcluirAbraços amigo que Deus continue iluminando seus caminhos.
Esse Gaúcho é "foda". Um profissional sério e que já merece uma oportunidade em um time de grande expressão. Trabalha duro e sempre leva equipes ao limite. Tenho certeza que ele em breve estará o de merece... Tive o prazer de trabalhar com ele e aprendi muito profissionalmente e pessoalmente. Uma pessoa maravilhosa
ResponderExcluirEsse Gaúcho é "foda". Um profissional sério e que já merece uma oportunidade em um time de grande expressão. Trabalha duro e sempre leva equipes ao limite. Tenho certeza que ele em breve estará o de merece... Tive o prazer de trabalhar com ele e aprendi muito profissionalmente e pessoalmente. Uma pessoa maravilhosa
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